Era dia de semana e já passava das dez da noite. Eu voltava para casa, quando um engraxate adentrou no vagão do metrô. Ele se sentou e, inconscientemente, o fitei. Carregava seus pertences de trabalho, a roupa suja de graxa, o olhar cansado.

Por um instante, pensei em abrir a carteira e ver se havia algum trocado para lhe dar. Enquanto titubeava em minha habitual indecisão, o trem parou na plataforma e um senhor de cadeira de rodas entrou.
Ele tinha a feição ainda mais judiada pelo tempo, lhe faltava uma perna e lhe sobrava fome. Com um discurso um tanto quanto apelativo, perambulou em um vai e vem, na tentativa de conseguir algum dinheiro.
Agora, lhes pergunto. Adivinhem qual foi a única pessoa que estendeu a mão ao cadeirante e lhe entregou as poucas moedas que possuía no bolso? Isso mesmo, o rapaz engraxate.
Essa cena, imediatamente, me remeteu ao dia do "pedágio" da universidade. Eram muitos estudantes em pé e sob o sol escaldante de Campinas; pintados, cansados, mas felizes. Devido às regras da faculdade, não poderíamos aceitar quantias em dinheiro. Nosso único objetivo era entregar panfletos educativos e uma pequena esponja como brinde.
Pela primeira vez na vida, experimentei o desprezo. As pessoas nos viam e fechavam desesperadamente os vidros do carro, como se fôssemos animais prestes a atacá-los. Olhavam fixamente o farol, quase implorando para que a luz verde acendesse imediatamente. 
Mas, como paradoxo aos aflitos que propositalmente nos ignoravam, haviam os pais de família, com o carro engasgando e evidentemente menos abastados. Estes insistiam em nos parabenizar e entregar algum valor, mesmo que apenas simbólico. 
Somo esse episódio aos vários casos que presenciei em quatro anos de trabalho em um banco público: diversas famílias com menor poder aquisitivo que jamais hesitavam em ajudar um parente necessitado, enquanto os mais abonados compareciam à agência exclusivamente para dividir alguma herança.
Obviamente não estou generalizando, nada nessa vida pode ser feito da parte o todo. Apenas volto a me questionar se o dinheiro tem a capacidade de mudar o caráter de uma pessoa ou se ele apenas evidência algo já existente. Ascender a uma classe social melhor dissolve a empatia do ser humano? Tem coisas que o dinheiro não compra.

É, faz tempo.
O último rascunho de meus textos tem data de mais de meio ano atrás. Ele não foi terminado e menos ainda publicado.
Não há uma razão específica pela qual eu havia parado de escrever, apenas não consegui produzir nada nesses quase 9 meses. O que me entristece muito, já que tinha prometido a mim mesma que esse blog, entre tantos que já tive em minha vida, eu não abandonaria.
Mas enfim ressurgi, meio enferrujada e muito auto crítica, como sempre.
Recentemente completei mais uma primavera. Resolvi então usar minhas reflexões da vida como tema para esse retorno mais que adiado.
É bem nostálgico me recordar dos tempos de criança, quando minha mãe preparava um batalhão de docinhos e lembrancinhas para que eu pudesse ter uma festinha na escola e outra em casa.
Com o tempo, as comemorações no colégio acabaram e as em casa foram ficando menores, até se extinguirem também. Hoje em dia, eu ganho um parabéns e, talvez, um abraço.
O que quero dizer com isso?
Percebi que "virar gente grande" não é só se obrigar a levantar da cama logo cedo todos os dias, mesmo exausta ou doente; vai muito além das pessoas insuportáveis que se tem que aturar no ambiente de trabalho ou nos meios de transporte lotados; ultrapassa também todos os rótulos que a sociedade e sua família irão lhe colocar, uma vez que a maioria deles prefere apontar seus erros para amenizar os próprios; transpõe e destrói muitos dos sonhos idealizados e bonitos que tínhamos quando crianças.
Crescer traz coisas boas, não há como negar. Mas a partida da infância leva consigo sentimentos que, talvez apenas para mim, ainda sejam um tanto quanto importantes.
Não é só a inocência e a pureza que se dissipam com o passar dos anos. Os horários apertados e a intensa cobrança em cima dos adultos fazem com que eles tenham tempo apenas para cuidar de seu próprio umbigo. Não que isso seja de todo mal, mas é triste ver que as pessoas vão deixando de se importar com o vizinho, o amigo ou até mesmo o familiar. Aquele que um dia te ofertou um ombro para lhe reconfortar, hoje está ocupado demais com seu cotidiano para saber se você está precisando dele novamente.
Datas comemorativas começam a passar em branco, esquece-se da importância de um abraço e um gesto de carinho, o sorriso sincero dá lugar às rugas de apreensão na testa, o olhar torna-se propenso a enxergar pontos ruins e a camuflar as pequenas alegrias do dia-a-dia.
Só gostaria de voltar a ver o mesmo brilho nos olhos daqueles que me cercam. Derreter o gelo que a maturidade trata de construir no coração dos que crescem. E ter a certeza de que os arranhões do tempo não levarão embora também o melhor e mais puro sentimento do mundo.



Me enganei completamente quando pensei que estar de volta à vida universitária acalmaria um pouco minha rotina. As coisas parecem estar muito mais agitadas com um expediente 2 horas mais curto e sem a pressão do vestibular do que achei que estariam.
Mas, um certo candidato à presidência da república, que felizmente teve uma votação pouco expressiva, me fez ficar enojada com os comentários proferidos em pleno debate político. Sendo assim, vim deixar toda minha perplexidade e indignação aqui.
"Órgão excretor não reproduz.", foi o argumento dado por Levy Fidelix à Luciana Genro, quando esta lhe perguntou sua opinião sobre a união homo afetiva. Vê-se claramente que esse senhor de bigodes não entende muito de biologia, uma vez que a urina e o suor também são excretas do corpo humano, o que significa que a pele e os dois órgãos aos quais ele se referia incluem-se como parte do sistema excretor.
Em momentos como esse é que somos capazes de ver o reflexo do preconceito que ainda está incrustado em grande parte das pessoas. O pior não está em ele ter dito isso, e sim nesse comentário ter feito sua página aumentar em mais de 400% o número de likes. O maior problemacomo já disse Gilberto Maringoni, é a "mentalidade Levy Fidelix" ainda ser tão forte e presente em nossa sociedade.
As gerações mais recentes lutam por igualdade, para que o negro não sofra preconceito, os idosos sejam bem tratados, mulheres não se tornem objetos, crianças e animais não sofram maus tratos e tantas outras batalhas cujas bandeiras são hasteadas diariamente. Se fossem apenas os mais antigos, que passaram a vida acostumados e ensinados a condenar os diferentes, talvez eu até pudesse aceitar. O que eu não entendo é como ainda pode haver tanta gente com pensamentos tão retrógrados em pleno século XXI.
As pessoas querem respeito ao seu credo, sua cor, seu sexo e sua idade, mas não conseguem tolerar a opção sexual do próximo. Definem os homossexuais como "pouca vergonha", mas deixam seus filhos assistindo às cenas nada comportadas da novela das 9. Querem poder dizer livremente o que pensam, mas não aceitam ouvir uma opinião contrária.
Se você não gosta, ok. Continue casado com a sua esposa ou seu marido, mas é tão difícil permitir que o outro também seja feliz? É tão penoso aceitar uma decisão que não vai afetar em absolutamente nada a sua vida? Não, eu sinceramente acho que não.

Em poucos dias, teremos os olhos do mundo voltados para nosso país. Um dos maiores eventos de esporte será sediado nas terras tupiniquins, para o bem ou para o mal.
Concordo com grande parte da população que o Brasil está anos-luz de ter infraestrutura suficiente para realizar um evento de tamanho porte. Todos sabemos da enorme quantia de dinheiro que fora desviada utilizando as obras como cobertor, o que aconteceria independente do partido que estivesse no poder.
O que eu, sinceramente, tenho achado uma grande bobagem é todo esse rebuliço de "não vai ter copa". Obviamente sabemos que haverá. Se quiséssemos realmente ter evitado tudo isso, as manifestações deveriam ter acontecido em 2007, quando fora anunciada a sede de 2014. Mas naquela época, protestos não estavam na moda, não davam status de engajado, não te faziam cool.
A única coisa que nos resta no momento é aproveitar toda a atenção que estamos recebendo pra mostrar o quão suja a casa está, bradar nossa insatisfação com o sucateamento da saúde, educação e segurança. Essa é a hora de fazer Brasília se arrepender e se envergonhar do caos em que vivemos.
Não basta colocar mais uns caras armados nas ruas, trocar as placas do metrô e anunciar as estações em inglês. Pintar a parede de fora não acaba com as infiltrações e rachaduras de dentro; maquiagem disfarça, mas não conserta nada.
Não serei hipócrita, estou animada com a copa. Quem me conhece sabe que adoro futebol e que estou longe de fazer parte das torcedoras quadrienais. Mas também acho que precisávamos ter arrumado muito melhor a casa antes das visitas chegarem. Infelizmente, o jeitinho brasileiro guardou toda a bagunça no armário e varreu a sujeira para baixo do tapete, como é de costume.

Um grande grupo de adolescentes, provenientes da periferia, que se reúne em um shopping ou parque qualquer de São Paulo. Apedrejados por uns, glorificados por outros e popularmente conhecidos como "rolezinhos".
Muito se ouviu falar desses jovens nas últimas semanas, covardes atrocidades foram deliberadamente publicadas na mídia, um preconceito descarado se mostrou ainda incrustado em toda sociedade hipócrita e dissimulada em que estamos mergulhados.
Confesso que, com pouco conhecimento sobre o assunto, também tirei conclusões precipitadas. Os meios de comunicação em massa querem vender essa imagem de baderneiros meliantes que causam destruição e pânico por onde passam.
O problema não é errar, assim como eu mesma fiz, mas fincar um julgamento acusatório e condenante sem nem ao menos tentar colher informações menos sensacionalistas sobre os fatos. As pessoas os rotularam de bandidos, destruidores, deliquentes e todos os adjetivos pejorativos possíveis; os sentenciaram com base em qualquer notícia vista no cidade alerta; os insultaram após lerem matérias que são feitas e distorcidas com o único intuito de vender mais um exemplar.
Poucos se deram ao trabalho de averiguar se não se tratam apenas de pessoas querendo aproveita sua juventude ou se realmente são ladrões com o objetivo de roubar e usar a violência. É muito mais fácil continuar no conforto da bolha de preconceito que nos rodeia.
Não estou santificando nem demonizando ninguém. Provavelmente houve depredação e furtos como estão noticiando, assim como existiram nas passeatas pelos 0,20 centavos, nas comemorações de títulos de um campeonato de futebol ou em qualquer outro evento que aglomere uma grande quantidade de gente. Mas esses outros acontecimentos são esquecidos ou tratados com a normalidade de algo rotineiro, não proíbem passeatas, nem comemorações, nem recém universitários comemorando seu ingresso na faculdade em plena praça de alimentação. Mas impedem a entrada de meninos e meninas a um shopping center, usando a maior política segregacionista que poderia haver. Barram, desprezam e enxotam, como se expulsa um rato sujo que veio do esgoto, como se livra de algo supostamente desqualificado para estar lá.
Gostaria de saber desde quando não ter dinheiro é sinal de mau caratismo, em quê influencia morar em uma casa apertada e sem luxo, por quê passear tornou-se um hobby exclusivo da elite.
Se pobreza fosse sinônimo de desonestidade, o congresso brasileiro teria a maior concentração de honradez do mundo.

Engraçado como acontecimentos da minha rotina sempre me rendem bons assuntos para escrever sobre. O que significa que o texto de hoje não fugirá disso.
O cenário era, mais uma vez, minha ida ao trabalho de transporte público; e a protagonista da vez, a mulher que sentava no banco ao meu lado.
Em alguma das estações, entrou no vagão uma daquelas pessoas que vem munidas de uma criança nos braços e distribuem bilhetinhos com palavras apelativas para pedir dinheiro. Não estou entrando na questão da veracidade dos recados desses papéis ou na legalidade de tais ações, isso com certeza renderia um novo post. O que me indignou, na verdade, foi reparar que assim que o rapaz entrou no trem, quem estava sentada ao meu lado imediatamente fechou os olhos e fingiu estar dormindo. Tudo isso para não pegar um papel na mão e, se for contra sua vontade doar alguma contribuição, simplesmente devolve-lo ao dono.
E essa não foi a primeira vez que me deparei com esse tipo de gente mal educada, já que esse é o adjetivo mais ameno que posso escolher para usar, que instantaneamente cai no sono assim que vê um idoso, deficiente ou criança entrar no metrô ou ônibus. Como se "dormir" também fechasse os olhos da própria consciência e tirasse o peso da preguiça ou má vontade de ceder o lugar para alguém que claramente está necessitando mais.
A má educação está presente em toda parte, a todo momento. Naqueles que "espertamente" tentam furar fila para poupar minutos do seu dia e desperdiçar os dos outros. Em pessoas que viram o rosto e fingem não ver os entregadores de folheto, tratando-os como se fossem um poste no meio da calçada. Nos mais abastados financeiramente, que, ao avistarem recém aprovados na faculdade, fecham o vidro do carro e não tiram os olhos do semáforo. Certamente meia dúzia de moedas lhes fará muita falta no final do mês. Em clientes que se revoltam com a burocracia brasileira e despejam sua raiva em quem está do outro lado da linha, quando na verdade eles estão apenas seguindo ordens de superiores. Nos apressados que carregam enormes bolsas ou malas pesadas e não se dão ao trabalho de se desculpar quando trombam em você ou passam por cima do seu pé. Em motoristas inconsequentes que desprezam o fato do carro da pista ao lado ter parado para um pedestre e continuam seu caminho, ignorando quem estiver à sua frente. Eu poderia ficar aqui páginas e dias listando casos de ausência de educação.
Mas talvez, o que mais me revolte é que, caso você reclame com qualquer uma dessas pessoas das situações acima, o mínimo que vai ouvir são algumas palavras de baixo calão ou buzinadas na orelha, quando não coisas piores. Não entendo como tem gente que se acha o umbigo do mundo, a ponto de pensar que está livre de se comportar como alguém civilizado. As regras de boa conduta valem para todos, menos para eles.
Isso porque os adultos de hoje, em sua maioria, tiveram pais rigorosos em sua infância. Me pergunto o que será do mundo quando esse bando de crianças que se jogam no chão e berram porque querem um brinquedo ou um sorvete crescer. A palavra educação perderá seu lugar no dicionário.



Recentemente tenho escrito e apenas arquivado meus pensamentos dentro dos rascunhos. Provavelmente por se tratarem de textos sobre sentimentos, lado meu que não me sinto à vontade para mostrar por completo ao mundo. São poucas as pessoas as quais tenho coragem de ser totalmente transparente nesse aspecto, poucas mesmo. Mas hoje resolvi escrever sobre um assunto que me veio à mente um dia desses, no percurso de casa até o metrô. 
Enquanto eu subia a rua, embalada pela música dos meus fones de ouvido, uma cena saltou diante de meus olhos e imediatamente chamou minha atenção. Um garotinho, que devia ter por volta de 6 ou 7 anos, brincava com uma caixa de papelão, emitindo sons que se assemelhavam aos de um carro. Era um menino obviamente desprovido de boas condições financeiras, mas exibia um sorriso lindo em seu rosto. Brincava com tanta alegria e disposição que meus lábios não puderam evitar de sorrir também.
Mas, observar aquele pequeno remeteu-me a um episódio que acontecera com o filho de uma conhecida minha. Ele tinha menos de 2 anos e havia ganho um bichinho de pelúcia, o qual ele mesmo escolhera. Assim que o brinquedo fora retirado da embalagem, o menino começou a apertá-lo em todos os cantos e, ao constatar que não emitia qualquer som ou música, arremessou-o de volta ao carrinho, visivelmente insatisfeito.
Não pude evitar de comparar essas duas realidades tão distintas. Um que se satisfaz com o pouco que tem e vê felicidade nas pequenas coisas da vida. Outro, mesmo ainda tão pequeno, já se irrita quando algo não atende às suas expectativas.
O mais triste é que, provavelmente, isso refletirá nos adultos que essas duas crianças se tornarão. O menor será o estereótipo de homem mais consumista e fútil possível, querendo sempre o último modelo e a versão mais nova de tudo que existir . O mais velho provavelmente não terá boas condições de estudo nem uma vida luxuosa, mas certamente se tornará um rapaz feliz e muito diferente do primeiro.
Não estou dizendo que a quantia de dinheiro influencia no nível de felicidade das pessoas, mas a criação que elas recebem e os valores que lhes são passados importam, e muito. Conheço muita gente rica que não se atém nem um pouco no ter, e sim no ser. Assim como existem muitas pessoas desprovidas monetariamente que dividem suas compras em parcelas a perder de vista, procurando no "status" de ter um iphone, o seu contentamento.
É claro que cada um tem sua definição do que é ser feliz, só não entendo como alguém pode valorizar mais os zeros em sua conta bancária e os eletrônicos de última geração do que ter as pessoas que te querem bem por perto.


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